Por Mateus Nagime
Foto por Marcello Zambrana/CPB
Natação
Débora e Beatriz Carneiro são gêmeas idênticas, mas não confundem o público somente por serem parecidas. Elas são destaques mundiais no 100m peito SB14 da natação paralímpica e conseguem sempre tempos parecidos e em geral, elas acabam dividindo as láureas. Nos Jogos Paralímpicos Paris 2024, as 'gêmeas da natação' garantiram um lugar junto ao pódio. Débora ficou com a prata, com 1min16s02, enquanto Beatriz foi bronze com 1min16s46. Louise Fiddes, da Grã-Bretanha, prata em Tóquio 2020, foi ouro em Paris 2024, com 1min15s47.
As irmãs agora acumulam cinco medalhas em Jogos Paralímpicos. Beatriz conquistou seu segundo bronze na prova, enquanto a prata de Débora é sua primeira medalha individual. Beatriz conquistou um bronze no revezamento 4x100m livre misto em Paris 2024, e Débora tem um bronze na mesma prova, mas em Tóquio 2020.
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Em entrevista após a prova para a Sportv, Débora Carneiro lembrou que ela terminou em quarto lugar em Tóquio 2020, a dois centésimos da irmã, e agora as duas estão juntas no pódio. Além disso, as irmãs dedicaram a medalha ao seu pai, que faz aniversário hoje. "É a primeira vez que passamos o aniversário dele juntos em Jogos Paralímpicos", lembrou Débora.
Débora e Beatriz Carneiro começaram na natação por segurança
Nascidas em 7 de maio de 1998, a semelhança de Beatriz Borges Carneiro e Débora Borges Carneiro vai além do físico e dos tempos nas piscinas. Ambas estudam gastronomia em Maringá, Paraná, onde treinam desde 2010. Elas moravam em uma casa com piscina e o pai, Eraldo Volpato Carneiro, ensinou elas a nadar, mas sem pensar em competições.
“Eu coloquei elas para aprender a nadar por uma questão de sobrevivência porque eu moro numa casa que tem piscina. Assim que elas tiveram idade eu coloquei para aprender, para não correr o risco de que elas morressem afogadas na minha piscina”, comentou para a revista Marta.
No fim da infância, a vida das gêmeas mudou completamente. A mãe delas faleceu quando elas tinham 11 anos e o pai precisou encontrar algo para ocupar elas enquanto ele estava trabalhando. Através de uma parceria da escola com uma academia, ele escolheu colocar elas na natação. Aos 12 anos, elas também foram diagnosticadas com deficiência intelectual.
Gêmeas da natação se inspiram em 'Procurando Nemo' e têm uma tatuagem de Dory
O pai começou a gerenciar a carreira esportiva das filhas, mas no começo era especialmente difícil. “Eu fui muito duro no começo. Elas não queriam, no início, porque os treinos são pesados, tem que treinar todo dia, volta cansada, volta esgotada. Então eu tive que insistir até que, aos poucos, elas foram entendendo e assumindo essa condição, reconhecendo que elas estavam fazendo algo importante. Na primeira competição que elas participaram, já foram campeãs brasileiras”, declarou Eraldo à revista Marta.
Elas também dividem uma tatuagem, a personagem Dory do filme “Procurando Nemo”, animação de 2003, que, assim como as gêmeas, tem uma deficiência intelectual e sofre perda de memória recente. Além do personagem, está a frase “continue a nadar”.
Dificuldade em entender comandos e tempo não atrapalha a velocidade nas piscinas para as gêmeas da natação
A deficiência intelectual deixa os treinos mais complexos, mas as gêmeas levam de boa. Quem assiste suas provas nem imagina, mas elas têm dificuldade de se lembrar dos comandos no treino. Elas completaram o ensino médio, mas não conseguem entender textos ou temas complexos e também não conseguem fazer operações matemáticas comuns, como detalhou uma reportagem do UOL. Portanto, o treino tem que ser todo adaptado para que elas consigam ter o melhor desempenho possível nas competições.
“É 24 horas por dia. A gente treina junto, come junto, dorme junto. Dentro da água a gente não tem rivalidade. Fica torcendo uma pela outra. Não foi nada fácil, mas foi uma emoção muito grande ter minha irmã ao lado”, contou Débora ao globo.com no Parapan Lima 2019.
Débora e Beatriz Carneiro foram medalhistas de bronze em Tóquio 2020 e por pouco não empataram
Beatriz conseguiu índice para os Jogos Paralímpicos Rio 2016, mas Débora teve uma crise de apendicite e precisou ficar longe das piscinas. Já recuperada, Débora voltou a brilhar e ambas foram juntas para o Japão, onde cada uma conquistou uma medalha de bronze nos Jogos Paralímpicos Tóquio 2020.
Beatriz foi bronze no 100m peito SB14, com 1min17s61, prova na qual Débora terminou em quarto, com 1min17s63. Por apenas dois centésimos, não houve um empate histórico entre as irmãs gêmeas. Débora, porém, teve seu momento de glória, como parte da equipe de revezamento 4x100m livre S14 que conquistou o bronze em Tóquio 2020.
Como uma das gêmeas tem o costume de conquistar o que a outra já tem, em Paris foi a vez de Beatriz Carneiro integrar o revezamento 4x100m livre S14. Ao lado de Arthur Xavier Ribeiro, Gabriel Bandeira e Ana Karolina Soares de Oliveira, Débora conquistou a medalha de bronze, com recorde das Américas.
Débora Carneiro foi campeã mundial e Beatriz Carneiro conquistou a primeira medalha da família em 2017
Débora foi campeã mundial em Manchester 2023, com 1min15s10, enquanto Beatriz foi vice-campeã, com 1min15s72. Ainda em campeonatos mundiais, elas já subiram outras vezes ao pódio nos 100m peito SB14: Beatriz foi prata em Cidade do México 2017; Débora conquistou dois bronzes, em Londres 2019 e Funchal 2022.
Nos revezamentos 4x100m livre S14 e 4x100m medley S14, Débora conquistou o bronze no Campeonato Mundial Funchal 2022; Beatriz também foi bronze em Manchester 2023.
Dobradinhas nos Jogos Parapanamericanos marcam carreira das irmãs Carneiro
Nos Jogos Parapanamericanos Lima 2019, as irmãs protagonizaram duas dobradinhas, com cada uma vencendo uma das provas: Débora foi ouro nos 100m peito S14 com 1min16s33, enquanto Beatriz foi prata, com 1min17s11. Já nos 200m medley, foi a vez de Beatriz ser ouro e Débora prata. Beatriz foi bronze nos 200m livre.
Já nos Jogos Parapanamericanos Santiago 2023, Beatriz conseguiu 1min14s98 para levar o ouro dos 100m peito, pouco à frente de Débora, prata com 1min15s02. Ainda no Chile,elas ainda conquistaram uma prata e um bronze cada, ‘invertendo’ o resultado em outras duas provas: nos 200m livre, Beatriz foi prata e Débora bronze; já nos 200m medley, Débora foi prata e Beatriz bronze.
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